A HERANÇA DOS SANTIFICADOS – Luciano Subirá

07/06/2017

No ano de 2008, começamos em Curitiba, Paraná, um evento anual direcionado especificamente a pastores e líderes, com o nome “Casa de Zadoque“. O evento nasceu e foi denominado a partir da mensagem que eu compartilharei aqui. A essência desta mensagem é a relação entre a conquista e a consagração. Ao instruir o profeta Ezequiel sobre um novo Templo e sobre como deveria ser feita a distribuição da herança ao redor do lugar de adoração (o novo Templo), o Senhor deu honra e herança especial aos que Ele mesmo chamou de “sacerdotes santificados”.

Há uma herança especial, reservada aos ministros comprometidos com Deus. Através do profeta Ezequiel, vemos o Senhor destacando uma linhagem sacerdotal que cumpriu o seu dever e não se extraviou – os filhos de Zadoque:

“Será para os sacerdotes santificados, para os filhos de Zadoque, que cumpriram o seu dever e não andaram errados, quando os filhos de Israel se extraviaram, como fizeram os levitas.” (Ezequiel 48.11)

Tudo o que alcançamos em nosso relacionamento com Deus (e também no ministério) está direta e proporcionalmente ligado à dimensão do nosso compromisso e entrega. A nossa santificação determinará não apenas quão longe iremos e o quanto conquistaremos, mas também o que conseguiremos manter e preservar depois dessas conquistas.

Os integrantes desta linhagem sacerdotal – os filhos de Zadoque – foram destacados por Deus como “sacerdotes santificados” (poderíamos ainda chamá-los de “ministros comprometidos” com o Senhor). Para compreendermos esta linhagem e o seu valor aos olhos de Deus, é preciso retroceder muito no tempo desta narrativa bíblica para entendermos um processo que teve início com a palavra de juízo que o Senhor pronunciou contra a casa do sumo sacerdote Eli.

A PROMESSA DE UMA CASA FIRME

As Escrituras Sagradas nos revelam alguns princípios importantíssimos com relação à maneira como Deus Se relaciona com os Seus ministros. Ao estabelecer um ministério, o Senhor não apenas determina o que o mesmo deve fazer e como deve agir, mas também deixa claro que um dia haverá uma prestação de contas e uma recompensa (boa ou não) de tudo o que ele fez.

No entanto, alguns ministérios podem ser julgados pelo Senhor, até mesmo antes da futura prestação de contas. O apóstolo Paulo declarou a Timóteo que há um juízo imediato e um não-imediato:

“Os pecados de alguns homens são notórios e levam a juízo, ao passo que os de outros só mais tarde se manifestam” (1 Tm 5.24).

Ou seja, alguns pecados somente serão revelados e julgados no futuro, mas outros podem ser revelados e julgados já. Foi exatamente o que aconteceu com o sumo sacerdote Eli.

Por causa dos seus contínuos pecados contra o Senhor (bem como de seus filhos), depois de muita expressão da longanimidade de Deus (o que me parece óbvio pelo fato de Eli ter chegado à velhice), o Altíssimo, por meio de um profeta, declarou uma dura palavra de juízo contra Eli:

“Veio um homem de Deus a Eli e lhe disse: Assim diz o Senhor: Não me manifestei, na verdade, à casa de teu pai, estando os israelitas ainda no Egito, na casa de Faraó? Eu o escolhi dentre todas as tribos de Israel para ser o meu sacerdote, para subir ao meu altar, para queimar o incenso e para trazer a estola sacerdotal perante mim; e dei à casa de teu pai todas as ofertas queimadas dos filhos de Israel. Por que pisais aos pés os meus sacrifícios e as minhas ofertas de manjares, que ordenei que me fizessem na minha morada? E, tu, por que honras a teus filhos mais do que a mim, para tu e eles vos engordardes das melhores de todas as ofertas do meu povo de Israel? Portanto, diz o Senhor, Deus de Israel: Na verdade, dissera eu que a tua casa e a casa de teu pai andariam diante de mim perpetuamente; porém, agora, diz o Senhor: Longe de mim tal coisa, porque aos que me honram, honrarei, porém os que me desprezam serão desmerecidos. Eis que vêm dias em que cortarei o teu braço e o braço da casa de teu pai, para que não haja mais velho nenhum em tua casa. E verás o aperto da morada de Deus, a um tempo com o bem que fará a Israel; e jamais haverá velho em tua casa. O homem, porém, da tua linhagem a quem eu não afastar do meu altar será para te consumir os olhos e para te entristecer a alma; e todos os descendentes da tua casa morrerão na flor da idade. Ser-te-á por sinal o que sobrevirá a teus dois filhos, a Hofni e Finéias: ambos morrerão no mesmo dia. Então, suscitarei para mim um sacerdote fiel, que procederá segundo o que tenho no coração e na mente; edificar-lhe-ei uma casa estável, e andará ele diante do meu ungido para sempre. Será que todo aquele que restar da tua casa virá a inclinar-se diante dele, para obter uma moeda de prata e um bocado de pão, e dirá: Rogo-te que me admitas a algum dos cargos sacerdotais, para ter um pedaço de pão, que coma.” (1 Samuel 2.27-36)

Algumas coisas muito claras foram anunciadas nesta profecia:

  1. Foi o Senhor que escolheu e levantou a Casa de Eli para o ministério.
  2. O Senhor não Se agradou de Eli e de sua casa, que O desonraram com o pecado.
  3. O Senhor decidiu julgá-los (e à sua descendência), removendo-os do ministério.
  4. O Senhor prometeu levantar um sacerdote fiel e edificar-lhe uma casa estável (outras versões bíblicas usam a expressão “casa firme”) no local de habitação desta família.

Estas verdades devem estar no coração de todos os que foram chamados ao ministério. O pecado atrairá juízo (e até mesmo a substituição da posição ministerial) dos que foram chamados e levantados pelo próprio Deus!

A promessa divina de juízo e de substituição da família sacerdotal de Eli também nos mostra algumas verdades importantíssimas com relação ao ministério:

  1. Até mesmo com uma declaração anteriormente feita, que expressava que a vontade divina era que a Casa de Eli permanecesse sempre no ministério, isto não se concretizou pela falha do próprio sacerdote.
  2. Sempre que alguém falha em cumprir o propósito divino, outro é levantado em seu lugar (Et 4.14; At 1.20).
  3. O critério principal da nova escolha de Deus é encontrar alguém que não falhe da mesma forma que falhou o que foi substituído (1 Sm 13.14).

Como é triste saber que alguém que o Senhor escolheu para Si foi rejeitado e substituído! Mas o juízo divino declarado contra a Casa de Eli não é algo exclusivamente dele; o mesmo princípio é aplicado a qualquer ministério que “zombe” de Deus, como Eli e seus filhos fizeram, pois a Escritura declara:

“Não vos enganeis: de Deus não se zomba; pois aquilo que o homem semear, isso também ceifará.” (Gálatas 6.7)

O cumprimento da profecia feita a Eli aconteceu anos depois, envolvendo dois sacerdotes distintos: Abiatar e Zadoque. Na pessoa de Abiatar, vemos o cumprimento da destruição da família de Eli. Na pessoa de Zadoque, encontramos o cumprimento da promessa a um sacerdote fiel.

Observemos primeiramente a história de Abiatar. Depois analisaremos a história de Zadoque. O profeta Samuel ainda estava vivo quando começou a acontecer o juízo sobre a casa de Eli:

“Respondeu o rei: Aimeleque, morrerás, tu e toda a casa de teu pai. Disse o rei aos da guarda, que estavam com ele: Volvei e matai os sacerdotes do Senhor, porque também estão de mãos dadas com Davi e porque souberam que fugiu e não mo fizeram saber. Porém os servos do rei não quiseram estender as mãos contra os sacerdotes do Senhor. Então, disse o rei a Doegue: Volve-te e arremete contra os sacerdotes. Então, se virou Doegue, o edomita, e arremeteu contra os sacerdotes, e matou, naquele dia, oitenta e cinco homens que vestiam estola sacerdotal de linho. Também a Nobe, cidade destes sacerdotes, passou a fio de espada: homens, e mulheres, e meninos, e crianças de peito, e bois, e jumentos, e ovelhas. Porém dos filhos de Aimeleque, filho de Aitube, um só, cujo nome era Abiatar, salvou-se e fugiu para Davi; e lhe anunciou que Saul tinha matado os sacerdotes do Senhor.” (1 Samuel 22.16-21)

A Bíblia nos mostra que esta era a linhagem sacerdotal de Eli:

“Aías, filho de Aitube, irmão de Icabô, filho de Finéias, filho de Eli, sacerdote do Senhor em Siló, trazia a estola sacerdotal” (1 Sm 14.3).

Tanto Aías como Aimeleque eram filhos de Aitube e bisnetos de Eli. E, dentre os sacerdotes, todos morreram (oitenta e cinco diante de Saul somente, além dos que morreram em Nobe), com a única exceção de um descendente de Eli, o seu tataraneto Abiatar, que escapou com vida e foi – por vários anos – o único sobrevivente desta linhagem. Porém, quando Salomão assumiu o trono, a sentença profética contra a Casa de Eli enfim veio a cumprir-se:

“E a Abiatar, o sacerdote, disse o rei: Vai para Anatote, para teus campos, porque és homem digno de morte; porém não te matarei hoje, porquanto levaste a arca do Senhor Deus diante de Davi, meu pai, e porque te afligiste com todas as aflições de meu pai. Expulsou, pois, Salomão a Abiatar, para que não mais fosse sacerdote do Senhor, cumprindo, assim, a palavra que o Senhor dissera sobre a casa de Eli, em Siló.” (1 Reis 2.26,27)

Quando Abiatar foi expulso do ministério sacerdotal, a palavra do Senhor contra a Casa de Eli finalmente se cumpriu! Entretanto, esta palavra profética não dizia respeito somente à remoção desta família do sacerdócio. Deus prometeu levantar um outro sacerdote que fosse fiel e, através dele, levantar uma “Casa Firme”. Vemos o cumprimento deste aspecto da profecia na vida de Zadoque.

É importante destacarmos que Zadoque foi sacerdote juntamente com Abiatar, mas, diferentemente deste outro sacerdote, ele não apenas se manteve fiel durante os seus dias de vida, mas também instruiu toda uma linhagem a manter-se fiel ao Senhor!

Ao falar de uma “Casa Firme”, o Senhor revelou o Seu desejo de ver, não apenas um ministro, mas também toda uma linhagem, mantendo-se estáveis e firmes na devoção e fidelidade a Ele e aos Seus mandamentos. Até mesmo na Nova Aliança, o conceito de que os filhos dos ministros devem andar em integridade é sustentado:

“É necessário, portanto, que o bispo seja irrepreensível, esposo de uma só mulher… e que governe bem a própria casa, criando os filhos sob disciplina, com todo o respeito (pois, se alguém não sabe governar a própria casa, como cuidará da igreja de Deus?).” (1 Timóteo 3.2a,4,5)

“Por esta causa, te deixei em Creta, para que pusesses em ordem as coisas restantes, bem como, em cada cidade, constituísses presbíteros, conforme te prescrevi: alguém que seja irrepreensível, marido de uma só mulher, que tenha filhos crentes que não são acusados de dissolução, nem são insubordinados.” (Tito 1.5,6)

A nossa resposta ao chamado ministerial não diz respeito somente a nós, ministros do Senhor, mas também envolve toda a nossa família! Os nossos filhos e os filhos dos nossos filhos (e toda uma linhagem) deveriam ser muito bem instruídos com relação a como andarem em fidelidade ao Senhor. Deus não está apenas procurando pessoas que façam bem o serviço, que executem uma tarefa com excelência! Ele espera que apresentemos uma casa firme, estável! Que as próximas gerações, depois de nós, possam continuar vivendo em santificação e com um compromisso com Ele! Este talvez seja o maior desafio e a maior responsabilidade de um ministério!

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Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.

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