A IGREJA NAS CASAS – Farley Labatut

01/03/2018

Eu vejo um grande movimento hoje, das chamadas igrejas orgânicas. A primeira coisa a se entender é que os pequenos grupos, as reuniões caseiras, faziam parte central da vida da Igreja. Isso é Bíblico. O ponto em que alguns desses grupos erram é em tentar defender que o modelo da Igreja primitiva era apenas a Igreja nas casas.

Infelizmente existe uma tendência natural de, em todas as vezes que entendemos uma verdade bíblica, levarmos essa verdade a um extremo em que desconsideramos outras.

A Igreja nas casas é um princípio bíblico. Mas tenho ouvido algumas pessoas, da chamada Igreja orgânica, pregarem uma meia verdade, como se fosse a verdade toda. Elas dizem que o verdadeiro modelo bíblico de ser Igreja é se reunir nas casas, que os templos fazem parte de um modelo romano ou católico e a Igreja primitiva se reunia apenas nas casas. Isso não é verdade.

Eu não tenho nada contra as pessoas quererem se reunir apenas nas casas como Igreja – apesar de acreditar que essas pessoas abrem mão de muitas coisas importantes que as grandes estruturas nos proporcionam. O problema começa quando as pessoas que fazem essa opção, passam a atacar todos que escolhem um modelo diferente do delas. Elas começam a criticar todos os outros modelos, criticam os templos, criticam as grandes organizações, todos passam a estar errados e elas são as únicas que vivem o verdadeiro modelo bíblico. Sempre tenha cuidado com os extremistas.

Será mesmo que a Igreja primitiva só se reuniao nas casas?

“Todos os dias, no templo e de casa em casa, não deixavam de ensinar e proclamar que Jesus é o Cristo”. Atos 5:42

“Todos os dias continuavam a reunir-se no pátio do templo. Partiam o pão em suas casas, e juntos participavam das refeições, com alegria e sinceridade de coração.” Atos 2:46

Esses textos nos mostram que, diariamente, eles se reuniam no templo e nas casas. Eu acredito que não necessariamente todos estavam todos os dias no templo e nas casas, mas esses dois tipos de reunião eram diários. Minha pergunta: Se todos os dias eles se reuniam nas casas, por que precisavam se reunir também no templo? Creio que eram reuniões com propósitos diferentes.

Não acredito que o motivo de se reunirem no Templo é porque ele era um lugar santo ou sagrado. Eles se reuniam ali, porque era um lugar onde se podia agregar um grande número de pessoas ao mesmo tempo. O pórtico era uma espécie de varanda coberta, que acompanhava o lado interno do muro, que cercava o pátio exterior do Templo. Havia colunas de mais de 8 metros de alturas nessas fileiras e sua cobertura era feita de madeira de cedro. Não sabemos exatamente quantas pessoas caberiam naquele espaço, mas é certo que eram muitas. A segunda pregação de Pedro depois do Pentecostes foi no Pórtico de Salomão (At 4:11). Talvez a acústica do lugar tenha ajudado a multidão a ouvir Pedro. A Bíblia nos conta que naquele dia muitos (não todos) dos que ouviram a Pedro, creram e o número de convertidos pulou de cerca de 3 mil para 5 mil homens. Com certeza era um lugar onde os apóstolos conseguiriam falar a um grande número de pessoas de uma só vez e serem ouvidos por elas. Toda vez que os apóstolos quisessem ensinar ou dar orientações ao maior número de pessoas de uma só vez, esse era o lugar. Ali seria possível reunir talvez, de uma só vez, toda a Igreja e perceber o alcance que o Evangelho estava tomando.

As reuniões nas casas, porém, eram diferentes. Nos pequenos grupos era onde a comunhão era mais próxima, mas efetiva. Todos podiam servir, perguntar, compartilhar, orar uns pelos outros. Nos pequenos grupos as necessidades individuais poderiam ser percebidas, o estímulo e a exortação mútua seria possível. Em Colossenses 3:16, Paulo afirma:

“Habite ricamente em vocês a palavra de Cristo; ensinem e aconselhem-se uns aos outros com toda a sabedoria, e cantem salmos, hinos e cânticos espirituais com gratidão a Deus em seus corações.”
Colossenses 3:16

Esse é o quadro claro de uma reunião caseira, isso não poderia ser feito em uma reunião com 3 ou 5 mil pessoas. Mas com um número de 5 mil converttidos seria muito difícil para 12 hormens manterem a fidelidade à doutrinaria de Cristo, usando somente de grupos pequenos. Se falarmos de reuniões nas casas, com grupos de 10 pessoas, seriam 300 casas. Mesmo que o grupo fosse de 20 pessoas, seriam 150 casas.

A importância das grandes reuniões, além das reuniões nas casas, fica clara para mim em Atos 19. Paulo chegou a Éfeso e, entrando na sinagoga, ensinou ali por 3 meses. Quando Paulo percebeu a resistência dos judeus, ele juntou consigo aqueles que haviam crido e passou a ensinar em um outro lugar onde cabia um bom número de pessoas, a escola de Tirano. Ali ficou ensinando por 2 anos. Apesar de parecer ser um hábito de Paulo usar também as casas (At 16:15, 16:40, 18:7, 21:16, 28:30), Paulo usou esses lugares maiores para ensinar.

A história demonstra que esse modelo continuou a ser praticado, tanto as reuniões nas casas, como as reuniões maiores. Com o tempo, alguns cristãos, que possuíam mais posses, começaram a ofertar algumas de suas casas, para que fossem usadas apenas para reuniões dos convertidos. Elas eram chamadas de casas-igreja. A mais antiga encontrada é a Dura Europos, atual terreno da Síria. Essa foi uma casa transformada em igreja, que segundo os historiadores, funcionou de 233 a 256 d.C, até a invasão dos persas.

Isso, desmascara também, o falso argumento de alguns defensores das chamadas igrejas orgânicas, que dizem que o modelo de ensino que é usado nas igrejas institucionais, ou nos templos, é um modelo romano católico. Certa vez um deles me disse:

Este modelo das igrejas nos templos, onde apenas um fala e os outros só escutam não serve pra mim. Além de não ser bíblico. O modelo judaico não é esse, nas sinagogas, mas todos podiam falar, compartilhar, perguntar. Este modelo onde só um fala, e os outros só ouvem, é um modelo criado pela igreja católica romana.

Não é preciso usar muito raciocínio lógico para chegar à conclusão de que nas duas pregações de Pedro depois do Pentecostes, nas quais haviam milhares de pessoas, se todos tivessem a liberdade de levantar a mão, fazer perguntas e participar falando, essas pregações provavelmente não teriam terminado até hoje.

Em Atos capítulo 20, Paulo vai à Trôade. Ele manda reunir os irmãos, pois ficaria com eles apenas uma noite e partiria no dia seguinte. Paulo, com certeza, queria otimizar ao máximo sua breve passagem pela cidade e o versículo 7 nos aponta que Paulo prolongou tanto o seu discurso, que um jovem chamado Êutico, que estava sentado em uma janela, entrou em um sono tão profundo que caiu do terceiro andar e morreu. Paulo desceu, ressuscitou o rapaz e voltou a falar até o romper da manhã.

Tudo isso me leva a crer que, não diferente de nossos dias, as reuniões nas casas e nos grandes lugares tinham propósitos diferentes. Assim como nos dias de hoje.

Texto extraído do livro “Valentes Pela Verdade”

Autor: Farley Labatut. Farley é pastor na Comunidade Alcance de Curitiba. Além de servir na igreja local, liderando os ministérios de ensino e de jovens, ele tem se dedicado a servir o Reino. Pregador e conferencista, junto com sua esposa Danielle Labatut, lidera o Ministério Valentes Pela Verdade, com o intuito de proclamar, ensinar e defender as Escrituras. O casal tem 3 filhos, Calebe, Nicole e Louise.

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