CIRCUNSTÂNCIAS QUE ENSINAM – Luciano Subirá

19/05/2020

A vida do profeta Jonas nos apresenta um bom exemplo de aguilhão circunstancial.

Veio a palavra do SENHOR a Jonas, filho de Amitai, dizendo : Dispõe-te, vai à grande cidade de Nínive, e clama contra ela, porque a sua malícia subiu até mim. Jonas se dispôs, mas para fugir da presença do SENHOR para Társis; e, tendo descido a Jope, achou um navio que ia para Társis; pagou, pois, a sua passagem, e embarcou nele, para ir com eles para Társis, para longe da presença do Senhor. (Jonas 1.1-3)

O Senhor comissionou Jonas a proclamar contra o pecado de Nínive, mas ele sabia que, se o fizesse, os ninivitas poderiam arrepender-se, e, nesse caso, seriam poupados. Desejando que eles fossem destruídos pela ira e pelo juízo de Deus, por julgá-los cruéis e merecedores de tal sorte, Jonas decide não levar-lhes a mensagem divina e se rebela contra Deus. E, ao rebelar-se, ele experimenta os aguilhões de Deus em sua vida:

Mas o Senhor lançou sobre o mar um forte vento, e fez-se no mar uma grande tempestade, e o navio estava a ponto de se despedaçar. Então, os marinheiros, cheios de medo, clamavam cada um ao seu deus e lançavam ao mar a carga que estava no navio, para o aliviarem do peso dela. Jonas, porém, havia descido ao porão e se deitado; e dormia profundamente. Chegou-se a ele o mestre do navio e lhe disse: Que se passa contigo? Agarrado no sono? Levanta-te, invoca o teu deus; talvez, assim, esse deus se lembre de nós, para que não pereçamos. E diziam uns aos outros: Vinde, e lancemos sortes, para que saibamos por causa de quem nos sobreveio este mal. E lançaram sortes, e a sorte caiu sobre Jonas. Então, lhe disseram: Declara-nos, agora, por causa de quem nos sobreveio este mal. Que ocupação é a tua? Donde vens? Qual a tua terra? E de que povo és tu? Ele lhes respondeu: Sou hebreu e temo ao Senhor, o Deus do céu, que fez o mar e a terra. Então, os homens ficaram possuídos de grande temor e lhe disseram: Que é isto que fizeste! Pois sabiam os homens que ele fugia da presença do Senhor, porque lho havia declarado. (Jonas 1.4-10)

Esse foi o primeiro aguilhão de Deus na vida de Jonas. O Senhor enviou-lhe uma grande tempestade. Sempre que falamos de tempestades, pensamos em adversidades, dificuldades, pois é exatamente isso que elas significam. Contudo, geralmente vemos em Satanás a origem das adversidades, mas, nesse caso, a Bíblia diz que foi Deus que as enviou!

E lógico que o Senhor pode fazer que o Diabo trabalhe para ele, permitindo uma investida contra áreas específicas da nossa vida, mas isso não quer dizer que Satanás esteja no controle da situação. E há tempestades como a do caso de Jonas, que o próprio Deus envia!

A nossa rebeldia desencadeia aguilhoadas de Deus, as quais, muitas vezes, podem vir por meio de circunstâncias adversas que são enviadas por Deus mesmo. E, nessas horas, não adianta orar, repreender o Diabo, nem jejuar. A única coisa que podemos e devemos fazer é arrependermo-nos e abandonarmos a rebeldia.

Enquanto Jonas não se posicionou, a tempestade ficava cada vez pior. É assim também com muitos cristãos rebeldes. Há muitas pessoas em rebeldia, que vivem correndo atrás de igrejas e pregadores, como se uma oração resolvesse os seus problemas. Mas o que é preciso, quando Deus está usando o seu aguilhão, é desempacarmos e decidirmos obedecer-lhe!

Jonas, no entanto, não cedeu ao aguilhão de Deus. Pelo contrário, ele recalcitrou, e machucou-se ainda mais. Ele deve ter pensado: “Se Deus pensa que vou desistir tão facilmente assim, está enganado! Ele enviou a tempestade para me assustar, para eu ficar com medo da morte, mas eu sou duro na queda e não recuarei! Se é para morrer, que eu morra, mas não irei a Nínive!”. E ele decidiu morrer afogado, em vez de obedecer ao Senhor:

Disseram-lhe: Que te faremos, para que o mar se nos acalme? Porque o mar se ia tornando cada vez mais tempestuoso. Respondeu-lhes: Tomai-me e lançai-me ao mar, e o mar se aquietará, porque eu sei que, por minha causa, vos sobreveio esta grande tempestade. Entretanto, os homens remavam, esforçando-se por alcançar a terra, mas não podiam, porquanto o mar se ia tornando cada vez mais tempestuoso contra eles. Então, clamaram ao Senhor e disseram: Ah! Senhor! Rogamos-te que não pereçamos por causa da vida deste homem, e não faças cair sobre nós este sangue, quanto a nós, inocente; porque tu, Senhor, fizeste como te aprouve. E levantaram a Jonas e o lançaram ao mar; e cessou o mar da sua fúria. Temeram, pois, estes homens em extremo ao Senhor; e ofereceram sacrifícios ao Senhor e fizeram votos. (Jonas 1.11-16)

Note que a tempestade enviada por Deus era progressiva. Quanto mais os homens tentavam chegar à terra, remando, mais tempestuoso ficava o mar. Quando Deus usa o Seu aguilhão, não há escapatória, a não ser que cedamos e nos arrependamos.

Jonas não se intimidou diante do risco de morte e preferiu morrer a abandonar a sua teimosia. Ele queria morrer, pois estava muito desgostoso com Deus. Contudo, Deus começou a “jogar duro” com ele e não permitiu que ele morresse.

Em momento algum, o Senhor queria destruí-lo; pelo contrário, Ele queria aplicar o Seu tratamento nele.

“Deparou o SENHOR um grande peixe que tragasse a Jonas, e esteve Jonas três dias e três noite dentro do peixe” (Jonas 1.17)

O profeta queria que tudo tivesse acabado sem que ele precisasse ceder, mas Deus não permitiu isso. Aí então veio segundo aguilhão, o qual, nas palavras de Jonas em sua oração, foi quando “todas as ondas e vagas de Deus passaram sobre ele” (Jonas 2.3). Muitos não creem no relato do livro de Jonas, mas vale lembrar que Jesus se referiu a ele não só como um escrito histórico, mas também tipológico (Mateus 12.39-41).

É interessante que, no navio, Jonas ficou firme e não cedeu, mas, quando Deus “pegou pesado” com ele, enviando um peixe que o engoliu vivo, impedindo-o até mesmo de morrer trazendo-lhe ainda mais sofrimento, então ele se rendeu. Temos em seu livro o relato da oração que ele fez no ventre do peixe:

Então, Jonas, do ventre do peixe, orou ao Senhor, seu Deus, e disse: Na minha angústia, clamei ao Senhor, e ele me respondeu; do ventre do abismo, gritei, e tu me ouviste a voz. Pois me lançaste no profundo, no coração dos mares, e a corrente das águas me cercou; todas as tuas ondas e as tuas vagas passaram por cima de mim. Então, eu disse: lançado estou de diante dos teus olhos; tornarei, porventura, a ver o teu santo templo? As águas me cercaram até à alma, o abismo me rodeou; e as algas se enrolaram na minha cabeça. Desci até aos fundamentos dos montes, desci até à terra, cujos ferrolhos se correram sobre mim, para sempre; contudo, fizeste subir da sepultura a minha vida, ó Senhor, meu Deus! Quando, dentro de mim, desfalecia a minha alma, eu me lembrei do Senhor; e subiu a ti a minha oração, no teu santo templo. Os que se entregam à idolatria vã abandonam aquele que lhes é misericordioso. Mas, com a voz do agradecimento, eu te oferecerei sacrifício; o que votei pagarei. Ao Senhor pertence a salvação! (Jonas 2.1-9).

Imagine só o estado deplorável (e até cômico) de Jonas, com todas aquelas algas enroladas em seu pescoço e em sua cabeça, três dias e três noites molhado, no escuro, sem comer, com enjoo, além de tudo mais que ele sofreu e que nem sabemos!

Deus sabe como nos “quebrar”. Se endurecemos e empacamos, ele nos aguilhoa. Se começamos a recalcitrar, ele sabe exatamente como lidar conosco. Jonas rendeu-se, fez questão de deixar bem claro em sua oração que ele pagaria todos os seus votos (o que provavelmente indicava que ele aceitaria ser obediente e que levaria a mensagem de Deus a Nínive). Como ele cedeu e se arrependeu, Deus retirou o seu aguilhão:

“Falou, pois, o Senhor ao peixe, e este vomitou a Jonas na terra” (Jonas 2.10).

Aí então o Senhor falou novamente com Jonas no sentido de ele ir e pregar aos ninivitas, e, dessa vez, obedeceu. Ele foi e pregou o juízo que Deus estabelecera durante um dia inteiro. Surgiu um avivamento, e todos, desde o menor até o maior, se arrependeram. E Deus não destruiu a cidade.

Contudo, o comportamento de Jonas nos revela que, mesmo tendo obedecido a Deus, ele não o fez de coração. Ele agiu como aquele menino que a professora põe de castigo, em pé diante da classe, e que diz: “Por fora eu estou em pé, mas, por dentro, estou sentado!”. Em outras palavras, ele até obedeceu, mas não de coração.

Com isso, desgostou-se Jonas extremamente e ficou irado. E orou ao Senhor e disse: Ah! Senhor! Não foi isso o que eu disse, estando ainda na minha terra? Por isso, me adiantei, fugindo para Társis, pois sabia que és Deus clemente, e misericordioso, e tardio em irar-se, e grande em benignidade, e que te arrependes do mal. Peço-te, pois, ó Senhor, tira-me a vida, porque melhor me é morrer do que viver. (Jonas 4.1-3)

Nessa hora, Jonas voltou a agir como um animal e empacou. Portanto, ele precisava de mais uma aguilhoada, e Deus deu-lhe uma terceira “espetada”. Ele estava tão contrariado que, quando o Senhor perguntou-lhe se a sua ira era razoável, ele virou a cara e não respondeu. Saiu da cidade e ficou remoendo sua bronca.

Foi aí que o Senhor o “pegou de jeito” mais uma vez. Dessa vez, Deus deu algo a Jonas, para tirá-lo mais tarde. Penso que isso retrata o Senhor mexendo na própria estabilidade que um dia ele nos deu, a fim de fazer que cedamos.

O tratamento de Deus visa justamente mudar os nossos conceitos e valores, e isso aconteceu com o profeta. O livro termina com Deus falando por último, não Jonas, o que nos mostra que ele aprendeu a parar de retrucar e empacar.

Nós também precisamos aprender isto: que independentemente do que achamos, ou estamos sentindo, Deus sempre tem razão! Ele é perfeito e não erra nunca! Precisamos aceitar isso com uma fé infantil e nunca mais empacarmos com relação a vontade divina.

Então, Jonas saiu da cidade, e assentou-se ao oriente da mesma, e ali fez uma enramada, e repousou debaixo dela, à sombra, até ver o que aconteceria à cidade. Então, fez o Senhor Deus nascer uma planta, que subiu por cima de Jonas, para que fizesse sombra sobre a sua cabeça, a fim de o livrar do seu desconforto. Jonas, pois, se alegrou em extremo por causa da planta. Mas Deus, no dia seguinte, ao subir da alva, enviou um verme, o qual feriu a planta, e esta se secou. Em nascendo o sol, Deus mandou um vento calmoso oriental; o sol bateu na cabeça de Jonas, de maneira que desfalecia, pelo que pediu para si a morte, dizendo: Melhor me é morrer do que viver! Então, perguntou Deus a Jonas: É razoável essa tua ira por causa da planta? Ele respondeu: É razoável a minha ira até à morte. Tornou o Senhor: Tens compaixão da planta que te não custou trabalho, a qual não fizeste crescer, que numa noite nasceu e numa noite pereceu; e não hei de eu ter compaixão da grande cidade de Nínive, em que há mais de cento e vinte mil pessoas, que não sabem discernir entre a mão direita e a mão esquerda? (Jonas 4. 5-11)

Imagine Jonas vendo uma planta crescer no prazo de um dia, com uma velocidade assustadora, algo nunca visto antes, um milagre! E esse milagre animou o coração de Jonas. É bem provável que ele tenha achado que estava vencendo o jogo, que Deus já estava se dobrando diante dele, e até mesmo paparicando-o. De repente, Deus lhe arrancou das mãos a única coisa que era valiosa para ele naquela hora! E Jonas teve que se render, pois, se ele continuasse se endurecendo, Deus também endureceria com ele.

Quando Jonas se rende, o livro termina, pois é a história dos aguilhões de Deus na vida do profeta! Muitas vezes, passamos por aflições e angústias que nós mesmos geramos. Precisamos de um coração submisso à vontade do Pai, que saiba orar como Jesus orou no jardim Getsêmani:

“não seja como eu quero, e, sim, como tu queres” (Mateus 26.39)

Texto extraído do livro “O Agir Invisível de Deus”

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Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.

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