Não há dúvida nenhuma de que a oração é essencial para ajudar na concretização dos propósitos de Deus. Contudo, somente a oração não é suficiente. Tanto a oração como o serviço são importantes no Reino de Deus; andam de mãos dadas. Obras de justiça precisam seguir as nossas orações por justiça, e as orações precisam sustentar as nossas obras.
Estamos testemunhando uma escalada de injustiça nas nações, com tráfico humano, pobreza, racismo, aborto, maus-tratos a órfãos e muitos outros tipos de opressão aumentando. À medida que se intensifica a crise mundial, Deus chama o seu povo a trabalhar pela justiça num espírito de misericórdia e humildade combinado com a oração. O espírito de intercessão é expresso tanto na oração como em obras.
Quando Jesus estava na terra, Ele enfatizou a importância da oração e realçou a relação desta com a injustiça ao dizer:
Porventura Deus não fará justiça aos Seus eleitos que a Ele clamam dia e noite? Digo-vos que lhes fará justiça rapidamente” Lucas 18.7-8
Jesus é o primeiro reformador social que ligou a liberação de justiça com a oração de dia e de noite. Por quê? Ele entendia que a oração contínua, perseverante, confronta a verdadeira fonte de injustiça no mundo espiritual – potestades demoníacas (Ef 6.12). Quando clamamos por justiça na intercessão, na verdade, mudamos a atmosfera espiritual da região em que a injustiça está ocorrendo.
Há uma dimensão espiritual em relação a fazermos obras de justiça e compaixão na graça de Deus. Os demônios resistem à justiça; não desistem facilmente do território que têm retido durante décadas ou séculos de opressão.
Jesus sabia que as nossas obras de justiça seriam muito mais eficazes quando combinadas com a oração dia e noite que é dirigida às origens espirituais da injustiça. Mas ambas são necessárias. Atos de justiça e compaixão são uma expressão visível do nosso amor por Deus. Quando servimos aos necessitados, aos pobres, aos órfãos e aos oprimidos, exaltamos a Jesus e demonstramos o seu amor de maneira prática. Amar as pessoas “agindo com justiça” é uma medida visível do nosso amor invisível por Deus. As nossas boas obras declaram o nosso amor por Deus.
Se alguém possuir recursos materiais e, observando seu irmão passando necessidade, não se compadecer dele, como é possível permanecer nele o amor de Deus? (1 Jo 3.17)
O nosso serviço pelos outros demonstra que o Seu poder nos transformou. Jesus nos ensinou a nos envolvermos em boas obras (de justiça) para que vejam as vossas boas obras e glorifiquem o vosso Pai (Mt 5.16). Os cristãos devem ser conhecidos pelo que fazem, não pelo que não fazem. Não é suficiente evitar pecados escandalosos; somos chamados a estar ativamente envolvidos em amar as pessoas. Quando andamos desta forma, os incrédulos reconhecem que Deus não está distante ou indiferente, mas, ao contrário, Ele tem um compromisso com o mundo e está atuante nas vidas das pessoas.
ABORDANDO A JUSTIÇA DA MANEIRA DE DEUS
Assim como as boas obras estão incompletas sem que a oração as sustente, assim também a oração está incompleta sem que as boas a sigam. As instruções mais claras quanto à relação da oração com a justiça encontram-se em Isaías 58.1-12. Essa passagem descreve maneiras práticas de fazermos obras de justiça com um espírito de misericórdia e humildade. Numa época em que Israel parecia estar buscando a Deus, Isaías foi enviado como mensageiro de Deus para lhes dizer que buscá-lo sem ajudar aos outros não lhe agradava. Sentiram-se satisfeitos em si mesmos, porque estavam buscando a Deus, mas não estavam também praticando obras de justiça e misericórdia. Deus queria mais do que as suas canções de adoração e reuniões de oração.
O Senhor bradou por meio de Isaías:
Clama em alta voz, não te detenhas, levanta a tua voz como a trombeta e anuncia ao meu povo a sua transgressão, e à casa de Jacó os seus pecados. Todavia me procuram cada dia, tomam prazer em saber os meus caminhos, como um povo que pratica justiça, e não deixa o direito do seu Deus; perguntam-me pelos direitos da justiça, e têm prazer em se chegarem a Deus, Dizendo: Por que jejuamos nós, e tu não atentas para isso? Por que afligimos as nossas almas, e tu não o sabes? Eis que no dia em que jejuais achais o vosso próprio contentamento, e requereis todo o vosso trabalho. Isaías 58.1-3
A nação de Israel buscava a Deus com oração e jejum. Alegavam que tinham prazer em conhecer os Seus caminhos estudando as Escrituras, e até mesmo tinham prazer de se aproximarem de Deus. Muito embora essas sejam atividades boas e até mesmo essenciais, a atitude do povo estava errada, porque não combinavam as suas boas atividades religiosas com obras práticas de justiça.
Quando Israel perguntou ao Senhor porque Ele não havia ouvido as suas orações e respondido aos seus dias de jejum, Ele apontou para a atitude errada deles: haviam ficado aquém em sua adoração; estavam oprimindo as pessoas, negligenciando as obras de justiça. As palavras do Senhor por meio do profeta foram:
No dia mesmo do vosso jejum… explorais os vossos trabalhadores. O vosso jejum sempre termina em discussão e rixa; em brigas violentas (Is 58.3,4)
Deus acusou os líderes de Israel de jejuarem e orarem principalmente para alcançar a sua graça em seus negócios e para parecerem devotos, mas ao mesmo tempo, exploravam os que Deus havia colocado sob a sua liderança. Buscavam usar a graça de Deus em suas vidas para o seu próprio progresso, mas sem ajudar os necessitados. Os líderes dos negócios naqueles dias estavam usando a sua influência e recursos como um meio de aumentar o seu conforto pessoal sem nenhuma intenção de ajudar os outros ou de compartilhar as bênçãos provenientes de Deus.
Os nossos recursos e influência talvez sejam pequenos, mas ainda assim podemos usá-los para ajudar os outros. Deus está observando para ver como administramos poucos recursos; isso é uma indicação de como usaríamos muitos.
Quem é fiel no mínimo, também é fiel no muito; quem é injusto no mínimo, também é injusto no muito. Lucas 16.10
O Senhor continuou revelando o seu coração a Israel, explicando que a abordagem do jejum e da oração que lhe agrada é a que defende a ajuda aos oprimidos.
Porventura não é este o jejum que escolhi, que soltes as ligaduras da impiedade, que desfaças as ataduras do jugo e que deixes livres os oprimidos, e despedaces todo o jugo? Isaías 58.6
Remover amarras da iniquidade, fardos pesados e jugos significa aliviar as pessoas da escravidão resultante de leis opressivas e de barreiras sociais, muitas delas criadas durante décadas e séculos. Isso retrata a injustiça sistemática da sociedade que tem institucionalizado a iniquidade. Além disso, refere-se às formas culturais
e pensamento que prevalecem como resultado de desvantagens educacionais, falta de cuidados preventivos ou apropriados em relação à saúde, desigualdades legais ou econômicas e outros fatores sociais que afetam negativamente os indivíduos.
O impacto combinado dessa mentalidade e dessas condições sociais mantém muitos indivíduos em escravidão. Quer seja no centro das cidades, em comunidades de imigrantes, no sistema escolar ou em qualquer outra parte da sociedade, Deus nos chama a fazermos a nossa parte ajudando os outros.
A injustiça social não será totalmente erradicada do mundo até que Jesus volte. Contudo, podemos fazer diferença hoje ao combinarmos a oração com obras de justiça. Ao trabalharmos para mudar leis opressivas e barreiras sociais injustas, precisamos suprir algumas das necessidades práticas dos que estão esperando por mudanças, compartilhando os nossos recursos de alimentação, habitação e vestuários com eles. O jejum que Deus escolheu é para compartilharmos o nosso pão com os famintos, levarmos os pobres para nossas casas e providenciarmos roupas para eles (Is 58.7).
À medida que trabalhamos para suprir às necessidades dos que estão sofrendo com injustiças, é essencial que sirvamos num espírito de humildade e que tratemos os oprimidos com dignidade. Reconhecemos que não entendemos
todas as complexidades que se desenvolveram durante décadas, e tampouco entendemos plenamente as situações de vida de outras pessoas. Portanto, o Senhor nos instrui a…
…afastares do meio de ti o jugo opressor, a língua e os gestos acusadores, e a falsidade do falar (Is 58.9)
Ao servirmos às necessidades dos afligidos, não devemos “apontar o dedo”, julgando onde agiram erroneamente ou como chegaram na atual situação. Em outras palavras, não devemos criticar a sua ética de trabalho, a falta de diligência na educação, os problemas com álcool ou drogas ou outras questões. Algumas pessoas talvez tenham essas deficiências, mas há muitos outros fatores que também contribuem com suas dificuldades. As maiores mentes não conseguem entender todos os complexos fatores que levam às suas difíceis circunstâncias de vida.
O nosso papel é amarmos e servirmos aos outros com humildade em vez de tentar analisar a sua situação ou julgá-los e criticá-los. As nossas verdadeiras motivações são, geralmente e facilmente, discernidas pelas pessoas a quem estamos servindo. Devemos ver a dignidade dos indivíduos que estão sendo oprimidos – o seu valor aos olhos de Deus
para que possamos servi-los bem e demonstrar que Deus realmente os ama.
Deus liberará uma dimensão sobrenatural da sua poderosa luz e cura quando o jejum e a oração forem unidos às obras de justiça. O Senhor prometeu apoiar as nossas orações e ações com uma maior manifestação de sua presença quando Ele declarou:
Então romperá a tua luz como a alva, e a tua cura apressadamente brotará, e a tua justiça irá adiante de ti, e a glória do Senhor será a tua retaguarda. Então clamarás, e o Senhor te responderá; gritarás, e ele dirá: Eis-me aqui. Se tirares do meio de ti o jugo, o estender do dedo, e o falar iniquamente. Isaías 58.8,9
A oração perseverante resultará em mais poder de Deus liberado em nossas obras de justiça. As pessoas não precisam somente de ajuda prática; precisam experimentar o poder de Deus também. Curar uma pessoa enferma é melhor do que lhe dar dinheiro para que ela vá ao médico, muito embora façamos ambas as coisas frequentemente. Orar e quebrar opressões demoníacas das pessoas faz mais do que simplesmente ouvir com compaixão as suas lutas contra essas opressões. Fazemos ambas as coisas, mas não desistimos da visão de manifestar a justiça de Deus, demonstrando o seu poder sobre enfermidades e opressões.
DETERMINAR EM NOSSO CORAÇÃO PRATICAR A JUSTIÇA
Precisamos ser zelosos no sentido de agir com justiça de acordo com condições de Jesus e por suas razões. Nunca satisfaremos as necessidades de todas as pessoas em nosso mundo sofredor, mas juntos podemos causar um impacto sobre a vida de algumas delas, orando persistentemente pela justiça de Deus e praticando atos de compaixão, por menores que sejam. Juntos podemos fazer uma grande diferença.
Impactar a vida de algumas pessoas impactará a vida de muitas outras com o passar do tempo. Se lhe pedirmos, Deus nos dará ideias criativas sobre como podemos ajudar os que estão sendo oprimidos. Ele se alegra em nós quando
sonhamos “grande” e pensamos “fora da caixa”.
Não se limite ao que está sendo feito atualmente na igreja ou no ministério que você serve. Deus talvez lhe dê uma ideia totalmente nova para alcançar as pessoas da sua vizinhança ou do seu local de trabalho que vai além do alcance atual do ministério de sua igreja local. Deus está levantando pessoas corajosas que farão grandes proezas sem se intimidarem com os obstáculos. Vamos nos unir à medida que nos entregamos à oração e à justiça nas condições de Deus pois…
…somos criação de Deus, realizada em Cristo Jesus para vivermos em boas obras, as quais Deus preparou no passado para que nós as praticássemos hoje (Ef 2.10).
Texto extraído do livro “Crescendo em Oração”
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Autor: Mike Bickle. É diretor da Casa Internacional de Oração na cidade de Kansas City, nos Estados Unidos. A casa Internacional de Oração reúne um grupo aproximadamente de 1000 pessoas que tem orado 24 horas por dia desde 1999.