ESPERANDO NO SENHOR – Luciano Subirá

12/12/2018

Se a vitória só vem no fim da prova, então o que acontece até lá? Podemos dizer que o tratamento acontece dentro da prova, no tempo em que estamos esperando o livramento de Deus. O que faz alguém mais que vencedor não é uma vitória imediata, no primeiro “round” da luta. É justamente a espera que produz em nós este tratamento.

Vivemos na época dos instantâneos – comida congelada pronta, que em poucos minutos preparamos num forno de microondas; rápida locomoção e transporte, como o avião; fac-símile, e outras coisas mais. A nossa geração não sabe ser paciente. Por causa disto não sabemos esperar. Vivemos ansiosos, afobados, fazendo tudo para ganharmos tempo.

Contudo, quando as provas e tribulações chegam, achamos que todas as nossas orações têm que ser respondidas instantaneamente e que tudo deve ser resolvido com urgência. Entretanto, como na maioria das vezes as coisas não acontecem assim, acabamos nos desesperando. Precisamos aprender a esperar, pois a espera produzirá preciosos frutos em nós se aceitarmos.

Entre todas as promessas de Deus e o seu cumprimento há um intervalo. Este intervalo é um período de espera até que tudo se cumpra. O mesmo se dá na adversidade. Entre o seu começo e o seu fim (com a nossa vitória) há um intervalo em que devemos esperar.

A espera produz mais resultados dentro de nós do que o que vemos fora de nós nesse tempo. Muitas pessoas acham que a espera é uma desculpa dos que não creem na intervenção imediata de Deus, mas, na verdade, ela é uma marca na vida dos que creem! A fé e a paciência caminham de mãos dadas, e não há como separá-las. Vemos isto no ensino do Novo Testamento:

Mas desejamos que cada um de vós mostre o mesmo cuidado até ao fim, para completa certeza da esperança; Para que vos não façais negligentes, mas sejais imitadores dos que pela fé e paciência herdam as promessas. Hebreus 6.11,12

Ao falar sobre a perseverança e sobre não nos desesperançarmos em meio às lutas, o escritor desta epístola, sob a inspiração divina, diz que é preciso que mostremos cuidado, zelo (ou como diz outra versão bíblica, que sejamos diligentes) e que imitemos o que pela fé e paciência herdam as promessas, ou seja, não herdamos as promessas divinas apenas pela fé mas pela fé e pela paciência conjuntamente. Isto não dá sustento à visão de uma fé automática, mas nos leva a vermos que a espera faz parte do processo de intervenção divina em nossas vidas. Abraão foi chamado de “o pai da fé” e nos deixou um exemplo a ser seguido. Vemos isto na carta de Paulo aos Romanos, no capítulo quatro, quando, após chamá-lo de “o pai da fé”, o autor diz que devemos seguir as pisadas da fé de Abraão. Em Hebreus ele é novamente apresentado como exemplo:

“E assim, depois de esperar com paciência, obteve Abraão a promessa” Hebreus 6.15

Quando Deus fez a promessa a Abraão de dar-Ihe um filho, ele tinha setenta e cinco anos de idade (Gn 12.4), mas, quando a promessa se cumpriu ele já estava com cem anos de idade (Gn 21.5), o que perfaz um período de espera de vinte e cinco anos.

Davi também esperou muitos anos desde o dia em que Samuel o ungiu até o dia em que ele se assentou sobre o trono de toda a nação de Israel.

A espera não é um sinal de derrota, ou de falta de fé, mas faz parte da operação da própria fé. É o período em que Deus trabalha mais dentro do que fora de nós. A espera nos amadurece, para que possamos receber o que o Senhor tem para nós. O fato de não passarmos pelo período de espera significa que não estamos prontos para a herança. O Filho Pródigo que o diga! Ele não quis esperar a hora certa de receber a herança, e, ao antecipar-se ao momento devido, ele demonstrou que ainda não estava preparado para o que tinha direito de receber. E, justamente por não estar preparado, acabou perdendo tudo: o dinheiro, o tempo fora de casa, a sua moral e a sua dignidade.

Verdadeiramente, temos uma herança em Deus. Temos direito a todas as coisas que o Pai nos prometeu. Contudo, não encontramos em lugar algum da Bíblia qualquer alusão à posse instantânea delas. Quando esperamos algo da parte do Senhor em oração e fé, estamos amadurecendo para que possamos estar à altura do que viermos a receber.

Não aprecio muito as semanas de campanhas promovidas por muitas igrejas que pregam a intervenção de Deus no fim delas. Há momentos em que Deus toca a pessoa na primeira oração que ela recebe, mas, se isto não acontecer, então precisaremos ensinar esta pessoa a esperar no Senhor até que ela receba o que necessita. Não interessa se demorará um mês ou cinco anos.

Temos que ensinar o processo de espera e perseverança. Para a maioria destas igrejas, o máximo que devemos esperar são as semanas da campanha. Depois, se nada aconteceu, “acaba ficando por isso mesmo”. A grande verdade é que tais campanhas exploram a credibilidade das pessoas e as amarram nas reuniões por mais tempo, forçando-as a permanecerem na igreja.

Não podemos deixar de desafiar as pessoas a crerem que o milagre e a intervenção do Senhor podem acontecer de imediato. Contudo, não podemos dar nenhuma garantia de que isto sempre será assim. Haverá momentos de espera, e neles Deus não agirá apenas nas circunstâncias externas, mas principalmente nos valores internos.

MOISÉS E OS TRÊS PERÍODOS DE 40 ANOS

Tenho aprendido muito com Moisés com relação a este assunto. Ele viveu cento e vinte anos, divididos em três períodos de quarenta anos. No primeiro período, o líder hebreu levou quarenta anos para achar que podia fazer a obra de Deus. O seu engano foi apoiar-se em toda a cultura, conhecimento e educação que recebera no palácio de Faraó. Ao fim deste tempo, ele tentou fazer a obra de Deus com sua própria força e capacidade, mas fracassou, o que o levou a fugir do Egito.

No segundo período, ele ficou no deserto mais quarenta anos, ao fim dos quais ele chegou à conclusão de que ele não poderia fazer a obra do Senhor. Até mesmo quando o Anjo do Senhor apareceu-lhe na sarça e o comissionou, ele ficou se desculpando, alegando não ser a pessoa ideal para o papel. Após este período, ele descobriu que não poderia fazer nada de si mesmo.

Foi só aí então que o Senhor o enviou como libertador, e os últimos quarenta anos da sua vida foram gastos em seu ministério. E um ministério desse porte não se forma da noite para o dia, nem em alguns anos de seminário. É necessário tempo, muito tempo para que ocorra toda a capacitação interior. É preciso esperarmos, pois é na espera que Deus forja o nosso caráter.

Às vezes, no entanto, a espera não envolve somente a nossa dimensão pessoal. No caso de Moisés, os seus oitenta anos de preparação não foram apenas em função do tempo de Deus em sua vida, mas também de outros fatores envolvidos na própria história.

Havia o tempo de Israel como nação. O Senhor havia dito antecipadamente a Abraão que a sua descendência seria escravizada por um determinado período de tempo:

“Sabe, com certeza, que a tua posteridade será peregrina em terra alheia, e será reduzida à escravidão, e será afligida por quatrocentos anos. Mas também eu julgarei a gente a que têm de sujeitar-se; e depois sairão com grandes riquezas”. Gênesis 15.13,14

Contudo, ainda que Israel tivesse o seu tempo dentro do plano de Deus, isto não dizia respeito aos israelitas somente. Para que Deus pudesse livrá-los do Egito e fazer com que tomassem posse de Canaã, havia uma questão ainda: o tempo dos povos que habitavam em Canaă! Na mesma ocasião, o Senhor disse a Abraão:

“Na quarta geração, tornarão para aqui; porque não se encheu ainda a medida da iniquidade dos amorreus” Gênesis 15.16

Para que a terra pudesse ser tirada dos cananeus e entregue ao povo de Israel, havia um tempo em que a longanimidade de Deus estaria em operação. Quando eles enchessem a medida da ira divina, este tempo se esgotaria, o que resultaria em juízo. Ao entregar a terra de Canaã aos hebreus, o Senhor não apenas estaria cumprindo o seu plano na vida do Seu povo, mas também estaria julgando os povos que O rejeitaram com os seus pecados. Estas coisas estavam acontecendo simultaneamente e tinham o seu tempo. Até mesmo antes de tudo isto ocorrer, (mais de quatrocentos anos antes) Deus já havia dito que seria assim, ou seja, esta espera era necessária e não seria mudada. Foi o que o Senhor quis dizer ao anunciá-la previamente. Dentro de todo esse contexto é que entrava o ministério de Moisés! Foi por esta razão que ele não foi aceito antes. Ainda não era a hora! Contudo, quando o tempo chegou, Deus o levantou!

Precisamos aprender a esperar no Senhor. Davi declarou:

“Esperei com paciência pelo Senhor, e ele se inclinou para mim e ouviu o meu clamor” Salmos 40.1

Para um considerável número de pessoas entre o povo de Deus hoje, esta não é uma mensagem tão agradável, mas é bíblica. E também é um remédio para muitos que estão em crise. Não pare de crer no que Deus pode e quer fazer em sua vida! Se nada acontecer imediatamente após a sua oração, persevere em buscar ao Senhor e creia que Ele agirá. Espere n’Ele até que você receba a sua resposta, e, quando tudo terminar, você verá que não somente venceu a tribulação, mas você também tornou-se mais que vencedor. Você receberá o tratamento e a operação de Deus, e, ao fim do seu período de espera, você descobrirá que, enquanto você aguardava no Senhor, Ele não apenas agiu nas circunstâncias, mas também fez com que você alcançasse mais maturidade.

Aconteça o que acontecer, saiba que Deus é soberano sobre todas as coisas, ao ponto de fazer com que você seja beneficiado em qualquer situação, e que, se você não tirar os olhos d’Ele, nada poderá afastá-lo do Seu amor e cuidado.

“Porque eu estou bem certo de que nem a morte, nem a vida, nem os anjos, nem os principados, nem as coisas do presente, nem do porvir, nem os poderes, nem a altura, nem a profundidade, nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amor de Deus, que está em Cristo Jesus, nosso Senhor.” Romanos 8.38,39

Texto extraído do livro “O Agir Invisível de Deus”

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Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.

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