Tive o privilégio de nascer e crescer num lar cristão. Aprendi, desde criança, a importância de cultivar um tempo devocional com Deus. Tanto por preceitos como pelo exemplo dos meus pais, eu soube que devemos cultivar esse momento diário de busca, a sós com o Senhor.
Quero falar, neste estudo, acerca de outro elemento essencial ao relacionamento com Deus que também abrange o nosso envolvimento com as Escrituras Sagradas. Trata-se da busca diária. Trata-se de algo óbvio e ao mesmo tempo ignorado ou, no mínimo, negligenciado. Comecemos pela palavra profética liberada por Jeremias:
Porque dois males cometeu o meu povo: a mim me deixaram, o manancial de águas vivas, e cavaram cisternas, cisternas rotas, que não retém as águas (Jr 2.13)
Nos dias em que Deus liberou essa palavra por meio do profeta Jeremias, não havia água encanada e o povo dependia dos mananciais para a sua sobrevivência. Contudo, tanto pela falta de mananciais (que não eram encontrados em qualquer lugar) como pelo comodismo de não precisarem buscar água todos os dias, as pessoas passaram a usar cisternas.
A cisterna era um reservatório de águas das chuvas, e era muito prática, uma vez que, pelo fato de armazenar água, ela evitava o esforço da caminhada diária em busca de uma fonte. Temos muitos exemplos bíblicos de pessoas indo a poços ou fontes (às vezes bem distantes) para buscar água. Entre esses episódios descritos na Bíblia podemos destacar o encontro de Jacó com Raquel (Gn 29.1-10) e o encontro de Jesus com a mulher samaritana junto à fonte de Jacó (Jo 4.5-14). Essa era uma realidade comum a todos os povos da Antiguidade, razão pela qual Deus escolheu justamente essa figura para ilustrar a verdade espiritual que o seu povo tanto necessitava ouvir e entender.
Qualquer um sabe que há uma diferença na qualidade da água proveniente de uma fonte e a que foi tirada de uma cisterna. Mas o enfoque dado por Deus nesse texto não é a qualidade da água, e sim o fato de que, espiritualmente falando, no paralelo estabelecido por Deus, as cisternas não funcionam.
O Senhor chamou de rotas as cisternas que o seu povo vinha cavando, enfatizando que elas não podiam armazenar água. Estamos falando da diferença entre beber da fonte ou de um reservatório. Portanto, nessa comparação que o Senhor fez, a conclusão é uma só: quem bebe da fonte tem a água ao passo que quem tenta fazer uso do reservatório acaba ficando sem ela.
Muitos de nós achamos que é possível “driblar” o princípio da busca diária e tentamos encher os nossos “reservatórios” nos cultos semanais. Há pessoas que durante toda a semana não oram, não adoram, tampouco leem a Bíblia mas acham que frequentar um culto é suficiente para mantê-las abastecidas. Foi exatamente sobre isso que o Senhor falou por intermédio do profeta Jeremias.
Por que preferimos encher as nossas cisternas, em vez de irmos diariamente à fonte? Talvez seja por mero comodismo, mas o fato é que temos falhado numa área vital do nosso relacionamento com o Pai celestial.
Ninguém sobrevive de estoques em sua vida espiritual. Não existe espécie de “crente camelo”, que enche o tanque e suporta quarenta dias de caminhada no deserto! Entretanto, muitos de nós agimos como se isso fizesse parte da nossa realidade.
Erramos em não buscar a renovação diária em Deus. Como declarou Smith Wigglesworth, o apóstolo da fé: “Se há algo que desagrada a Deus é a estagnação”. Creio que essa é uma área importantíssima a ser consertada em nossa vida. Não há nada que nos leve a ficar mais próximos de Deus do que o nosso relacionamento diário.
Essa ideia de beber da fonte é usada por Deus em toda a Bíblia. Creio que isso serve para cultivar em nós uma mentalidade correta com relação ao nosso relacionamento com ele.
Respondeu-lhe Jesus: Se tivesses conhecido o dom de Deus e quem é o que te diz Dá-me de beber, tu lhe terias pedido e ele te haveria dado água viva. Replicou-lhe Jesus: Todo o que beber desta água tornará a ter sede; mas aquele que beber da água que eu lhe der se fará nele uma fonte de água que jorre para a vida eterna. (Jo 4.10,13,14)
Ora, no último dia, o grande dia da festa, Jesus pos-se em pé e clamou, dizendo: Se alguém tem sede, venha a mim e beba. Quem crê em mim, como diz a Escritura, do seu interior correrão rios de água viva (Jo 7.37,38)
Pois o cordeiro que se encontra no meio do trono os apascentará e os guiará para as fontes da água da vida. E Deus lhes enxugará dos olhos toda lágrima (Ap 7.17)
O Espírito e a noiva dizem: Vem! Aquele que ouve, diga: Vem! Aquele que tem sede venha, e quem quiser receba de graça a água da vida (Ap 22.17)
A fonte não somente retrata o nosso relacionamento diário com Deus, a nossa busca contínua, mas também exprime a ideia de que não é necessário estocarmos ou armazenarmos água, e que podemos dar preferência à água fresca. Decida hoje mesmo investir em seu relacionamento diário com o Senhor e fazer disso a sua fonte de águas vivas. Não se deixe levar pelo desejo de cavar para você mesmo uma cisterna rota que não retém as águas.
Chegar ao ponto crucial da busca ao Senhor, onde nada mais importa, envolve tanto a intensidade como a frequência. Não pode haver, em nosso relacionamento com Deus, somente um desses elementos. Tem gente tentando viver a intensidade da busca sem a frequência. E tem gente tentando viver a frequência sem a intensidade. Se não combinarmos essas duas características em nossa busca, ela se tornará incompleta e não cumprirá o seu propósito.
Quando o Novo Testamento retrata a maneira pela qual a igreja reagiu a visitação do Espírito Santo em seus dias, ele destaca o aspecto da relação diária com o Senhor.
DIARIAMENTE perseveravam unânimes no templo, partiam pão de casa em casa e tomavam as suas refeições com alegria e singeleza de coração, louvando a Deus e contando com a simpatia de todo o povo. Enquanto isso, acrescentava-lhes o Senhor dia a dia, os que iam sendo salvos (At 2.46,47)
E TODOS OS DIAS, no templo e de casa em casa, não cessavam de ensinar e de pregar Jesus, o Cristo (At 5.42)
É tempo de voltarmos a essa dimensão de vida cristã e ministerial: avivamento diário!
Texto extraído do livro “Até que nada mais importe”
Autor: Luciano P. Subirá. É o responsável pelo Orvalho.Com – um ministério de ensino bíblico ao Corpo de Cristo. Também é pastor da Comunidade Alcance em Curitiba/PR. Casado com Kelly, é pai de dois filhos: Israel e Lissa.