SIM, SIM! E NÃO, NÃO! – Rawlinson Rangel

30/03/2017

Antigamente, era no fio do bigode. Hoje, como pouca gente tem bigode, tem que ser no contrato mesmo. A palavra dada já não vale muito e sempre que for conveniente a gente rompe, acha alguma brecha, se justifica, mas não sai perdendo de jeito nenhum. Sim, sim! E não, não! É coisa de livro religioso.

Sei que este não é um livro sobre família, mas estou convicto que lealdade, fidelidade, companheirismo e honestidade se aprendem em casa, junto com uma série de outras virtudes. E como a família está debaixo de um terrível ataque à sua integridade, a sociedade está com problemas sérios no quesito cumprir a palavra.

Se em casa o até que a morte nos separe se dissolveu na incompatibilidade de gênios, por que motivo eu deveria ser fiel aos outros que nem íntimos são? Enquanto estou levando vantagem isso até que é fácil, mas quando não estou mais à vontade, me sinto incomodado, ansioso, o melhor é desistir e partir pra outra, mesmo que eu tenha dado a minha palavra. Mano, isso está errado!

A cotação da “Palavra Empenhada” despencou no mercado nacional, ou virou artigo descartável, como aqueles produtos importados da China. Paulo, o Apóstolo, já dizia que nos últimos dias as pessoas seriam “infiéis nos contratos” (Romanos 1.31). Bem, parece que estamos chegando ao fim.

Preciso ser justo. Sei que nem sempre é fácil cumprir o compromisso assumido em virtude de inúmeros fatores externos, e que nem sempre estão ligados ao caráter da pessoa. Uma situação de desemprego inesperada é o que basta para colocar um pai de família numa situação desesperadora por não poder cumprir sua palavra. Ou alguém que resolveu não fazer o combinado resulta em dificuldades pra você também. Acredito que todos podem entender situações assim. Mas o que incomoda os outros é quando você não fala nada, não explica a situação, não procura pra resolver. Você deu a palavra, mas não está nem aí para as consequências de não cumpri-la. Se você falou, tá falado, então tem a obrigação de fazer o que disse ou então se explicar por que não conseguiu.

E quando a gente esquece o que disse? Confesso que minha memória muitas vezes não é minha aliada, parece até que trabalha contra mim. Já tive que me desculpar por muitas coisas que disse que faria e não fiz simplesmente porque esqueci. Não posso arrumar outra justificativa, tenho de falar a verdade. Esqueci mesmo! Isso é chato demais, mas é a verdade. As pessoas se sentem ofendidas, tristes, magoadas, mas eu esqueci. É uma situação constrangedora demais, ninguém gosta, mas se aconteceu preciso assumir. Se vou inventar desculpas, vou mentir e isso é pecado. Esquecer não é pecado, pode até ser falta de consideração, mas não é pecado. Mas mentir para justificar o esquecimento é fazer a emenda ficar pior do que o soneto.

Mentir se aprende em casa. Um pai que não cumpre a palavra está transmitindo um conceito aos seus filhos. Uma hora ele vai cobrar a verdade deles e não a terá. Ele vai se sentir ofendido, triste, traído e furioso, mas a culpa é só dele. Durante anos seus filhos o viram dizendo à esposa que estaria num lugar quando na verdade estava em outro. Ou o ouviam dizendo que naquele fim de semana eles sairiam juntos, mas nunca acontecia. Ou que ele traria um presente, mas falhava. É claro que sempre havia uma boa explicação, o pai sempre se justificava, mas devido à constância das promessas não cumpridas, os filhos percebiam que simplesmente não era verdade. O mesmo acontece com a mãe que vive escondendo coisas do marido, tentando ganhar a cumplicidade dos filhos para fazer o que acha certo. Um dia farão com o que o que ela muito bem ensinou. Não falha. Eles vão mentir para vocês.

Mentir é um hábito desenvolvido após um contínuo exemplo e muita prática. Pais são os primeiros exemplos e os mais fortes. Se nós como pais descuidarmos da verdade, nunca poderemos esperar a verdade de nossos filhos. No fim, estaremos criando pessoas problemáticas para a igreja e para o mundo. O mais estranho para mim é quando deliberadamente os pais ensinam seus filhos a não falar a verdade. O exemplo clássico é quando o filho atende o telefonema de uma pessoa com a qual o pai não quer falar, e este manda o filho dizer que ele não está. Muitas vezes os pais dizem aos filhos que eles precisam ter o cuidado de não ferir os sentimentos das pessoas e que por isso uma pequena mentira pode ser dita. Esse comportamento segue até a idade adulta e seu filhinho se torna um hipócrita. Tal pai, tal filho.

Muitas vezes a gente mente sem querer, mesmo sabendo que está errado. Às vezes é por causa do hábito e outras por causa do medo, quase como um mecanismo de defesa. Para não sofrer, a gente mente. É claro que nem assim é certo deixar de falar a verdade, mas acontece.

José Rodrigues, o fundador da Missão Cristã Mundial, tem uma mensagem intitulada Vinte maneiras pelas quais a gente mente. Vale a pena ouvir. São pequenas e quase insignificantes mentiras do dia a dia, mas que nos comprometem eternamente. Algumas são mais ou menos como estas: estou orando por você, quando não estou; tentei te ligar, mas não completou a ligação, mas nem tentei; é o meu dízimo inteiro, mas não é; Deus, minha vida é completamente tua, mas eu faço o que eu quero; essa semana eu passo lá, mas não passo; custa tanto, mas nem tanto; e por aí vai.

A questão que quero expor é que precisamos dar à nossa palavra o valor que ela de fato tem. A Bíblia fala que os mentirosos não herdam o Reino de Deus (Apocalipse 21.8).

E se isso acontece com você? Se a mentira é uma constante, um vício, um hábito de anos aprendido com os maus exemplos familiares? Se é uma ferramenta de trabalho, de vendas, de defesa? Então você precisa correr para o Senhor. Ninguém mais vai poder libertar você a não ser o Deus da verdade. É uma vergonha adquirir todo um patrimônio tendo como base a mentira. É devastador quando as pessoas descobrem a verdade a respeito de nossas mentiras. A destruição é total e a aniquilação da nossa moral é fatal. Dificilmente haverá retorno.

Volte seu coração para Deus. Arrependa-se de seus pecados e de suas mentiras. Confesse a ele uma por uma e peça que o lembre das esquecidas. Sinta nojo de viver na mentira. Anseie pelo perdão e pela verdade. Deixe o Espírito da Verdade ministrar ao seu coração para perdoar e curar você. E se for possível e necessário, o Senhor o conduzirá por um processo de reparação. Não tenha medo disso, pois é libertador.

Extraído do livro “Por trás da Língua” – disponível na nossa loja virtual.
Autor: Rawlinson Rangel. Graduado em Administração Pública, Teólogo, Diretor da Vida & Sociedade, organização que oferece o Curso Pólis – Capacitação Política na Cosmovisão Bíblica, Coaching de Vida e Consultoria Política, coordenador do Ministério de Igrejas Internacionais na Igreja Batista do Bacacheri (Curitiba-PR). Casado com Márcia e pai de Arthur e Levi.

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